Quem nunca assistiu a um filme de super herói, mas sempre sentiu um interesse no gênero, vai adorar “Besouro Azul”. Já quem é fã, e acompanhou a maioria dos lançamentos nos últimos anos, pode até gostar – só vai achar difícil afastar o sentimento de “já vi isso antes”.
Não há um pingo de originalidade no novo filme baseado nos quadrinhos da DC, que estreia nos cinemas brasileiros nesta quinta-feira (17).
Mesmo assim, a trama amarra sua sequência de situações já exploradas em outras produções do gênero – do óbvio “Homem de Ferro” (2008) a “Venom” (2018) – com destreza suficiente para criar algo minimamente próprio. Algo como uma colcha de retalhos com tempero latino.
À frente desse resgate estão o elenco inspirado, encabeçado pelos carismáticos Xolo Maridueña (“Cobra Kai”) e a brasileira Bruna Marquezine, e o diretor Angel Manuel Soto (“Charm city kings”), que eleva um roteiro cheio de momentos derivados para um filme divertido e cheio de alma.
Nós somos o Besouro de Ferro Aranha da Justiça
“Besouro Azul” é a história de origem daquele que na verdade foi o terceiro a assumir a identidade nos quadrinhos, Jaime Reyes (Maridueña).
No filme, o jovem de família mexicana, ameaçada pela gentrificação do bairro, ganha poderes ao encontrar um artefato alienígena que se transforma em um “exoesqueleto” inteligente – uma espécie de armadura com a habilidade de voar e formar diferentes armas.
O problema é que o objeto não quer apenas se fundir de forma permanente a seu corpo, mas pertencia a uma bilionária maligna (Susan Sarandon) com planos de transformá-lo, obviamente, em uma tecnologia militar.
O roteiro de Gareth Dunnet-Alcocer (“Miss Bala”) pode parecer básico à primeira vista. Ao fim do filme, “básico” seria um avanço.
Com o tempo, os paralelos óbvios com “Homem de Ferro” – pessoa comum com armadura voadora e assistente digital robótico – evoluem para repetição de situações inteiras, que vão bem além das famigeradas “referências”.
Tudo bem, o clichê do vilão que nada mais é do que uma versão malvada do herói não é exclusividade do filme estrelado por Robert Downey Jr., mas é difícil evitar comparações quando ele também é um robozão maior com voz metálica, com direito a chicote energético e tudo (“1” e “2” misturados, o menor dos problemas).
Aos poucos, é difícil não jogar o jogo “onde eu já vi isso antes?”:
- discussão com voz na cabeça: “Venom” (2018)
- encontro profundo e emocionado em plano astral: “Pantera Negra” (2018)
- robô inseto gigante pisoteando inimigos: “Liga da Justiça” (2017)
Sobra ainda para “Homem-Formiga” (2015), “Capitã Marvel” (2019) e qualquer versão do Homem-Aranha (mesmo ignorando a comparação óbvia do “herói adolescente”).
Dá para lembrar até de “Dragon Ball Z” em uma cena que parece um pouco uma brincadeira. Infelizmente, a essa altura já não dá mais para saber com certeza o que é homenagem e o que é derivação.
Ok, ok. Mas e a Bruna?
Por sorte, os verdadeiros poderes de “Besouro Azul” estão além do roteiro, a começar pela escalação inspirada do elenco, formado em sua maioria por latinos.
Maridueña repete o carisma inesgotável que o destacou na série derivada de “Karate Kid”, equilibrando ingenuidade juvenil com bravura e seriedade nos momentos de ação.
Já Marquezine sabe aproveitar o presentaço que recebeu ao não ser escolhida para interpretar a Supergirl do horroroso “The Flash” (2023).
Ela pode não voar ou disparar laser pelos olhos, mas ganha um papel de muito mais destaque do que a participação rápida e esquecível na bagunça estrelada por Ezra Miller.
Mesmo que seja uma mocinha-de-filme-de-herói quase padrão, a brasileira carrega com habilidade uma carga emocional importante da trama com uma química incrível com seu parceiro de cena.
A depender do tamanho do sucesso do filme, a atriz tem tudo para começar uma carreira longa em Hollywood.
Acompanhados pelo comediante George Lopez e Adriana Barraza (“Penny Dreadful: City of Angels”), Marquezine e Maridueña brilham – em especial em contraponto à personagem limitada e caricata dada a ganhadora de Oscar do calibre de Sarandon (“Os últimos passos de um homem”).
Muito com pouco
Do outro lado da câmera, o diretor porto-riquenho tira leite de pedra de um roteiro fraco. Sob seu comando, clichês cansados ou situações praticamente repetidas de outras obras ganham alma e não soam desonestas.
Em um gênero em que diretores poucas vezes conseguem se impor, pelo menos desde a trilogia do Batman de Christopher Nolan, Soto (sem parentesco com o autor deste texto) se sai bem com discrição.
Mais do que dar tempero latino ao gênero, ele consegue segurar emoção em momentos que beiram o melodrama, além de criar uma bela atmosfera de ficção científica com uma trilha sonora inspirada.
No fim, “Besouro Azul” se beneficia ainda das expectativas. Em meio a uma fadiga generalizada de super heróis (ou da baixa qualidade apresentada recentemente) e depois do péssimo, muito ruim, ofensivamente “The Flash”, ninguém esperava muita coisa do herói de terceiro escalão.
Com um bom roteiro e a manutenção de elenco e diretor, o Besouro tem potencial para se juntar à primeira liga.
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